A partir das catástrofes ambientais experienciadas nos últimos meses em todo o planeta, é extremamente perceptível que as mudanças climáticas estão moldando as dinâmicas socioambientais da sociedade. No Brasil não é diferente: em 2024, o país presenciou uma das enchentes mais devastadoras do território nas últimas décadas, com 471 cidades no Rio Grande do Sul sendo completamente arrasadas pela força da catástrofe ambiental, retirando a vida de mais de 170 pessoas e deslocando de suas casas mais de 600 mil pessoas. Esse evento climático deixou explícito que as mudanças climáticas já estão acontecendo, e, de maneira devastadora, essa realidade afeta especialmente aquelas famílias mais vulneráveis socialmente e que possuem menor capacidade responsiva às catástrofes ambientais.
Enquanto grupos populacionais e países privilegiados contribuem de maneira significativa para a emissão de gases de efeito estufa, outros, historicamente marginalizados e colonizados, vem sentindo a consequência na última década, de ter 15 vezes maior o número de mortes por secas, enchentes e tempestades em seus territórios do que regiões mais privilegiadas da escala global (BELMONT, 2023). Dessa forma, é notório que a injustiça social e a extrema desigualdade que vem exacerbando-se ao longo dos anos possui consequências ainda piores e mais radicais, que é a injustiça climática, a qual acarreta milhares de desalojamentos e muitas mortes de maneira repentina em um território fragilizado economicamente e com alto risco ambiental.
O Brasil vem sendo palco de desastres socioambientais provocados não só pelos eventos climáticos extremos, como a concentração de chuvas e estiagens, mas também:
Pela ausência de políticas, investimentos e obras públicas que tenham a finalidade de reduzir riscos e adaptar os municípios ao novo cenário global;
Pela baixa capacidade e falta de estrutura dos sistemas de monitoramento, gestão de risco e gerenciamento de desastres dos órgãos públicos brasileiros competentes;
Por um contexto de vulnerabilidade social histórico do país, que submete, há décadas, a população mais pobre a habitar áreas de sensibilidade ambiental e carentes de infraestrutura;
Esse cenário não se limita apenas a grandes cidades. O estado de Pernambuco, por exemplo, apresenta alto risco de desastres tanto em deslizamentos de terra quanto em inundações e alagamentos, como revelam estudos recentes sobre os riscos climáticos na região.
Ainda no bojo da movimentação a nível federal acerca da pauta, o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), que integra o Comitê Interministerial responsável pela elaboração do Plano Clima, desde 2020 vem alimentando a plataforma Adapta Brasil, ou o Sistema de Informações e Análises sobre Impactos das Mudanças do Clima. A plataforma reúne dados de todos os estados brasileiros, e, dentre os impactos das mudanças climáticas mensurados pelo MCT está o risco de desastres.
Ao observarmos o mapa que espacializa o risco de impacto das mudanças climáticas em sistemas socioecológicos, considerando a ameaça de desastres geológicos e hidrológicos, verificamos que o estado de Pernambuco apresenta um alto índice de risco em ambos os cenários de desastre: em eventos de deslizamento de terra, e, em eventos de inundações, enxurradas e alagamentos.
Em maio de 2022, a Região Metropolitana do Recife ilustrou de maneira evidente essa vulnerabilidade socioambiental no município de Jaboatão dos Guararapes, que em uma crise climática extrema, foi o município que teve o maior número de óbitos devido ao fatídico cenário imposto, escancarando a relação intrínseca entre desigualdade social e o impacto de desastres ambientais.
Diante desses fatos expostos, é urgente que o Brasil adote políticas públicas realmente eficazes para enfrentar as catástrofes impostas pelas mudanças climáticas. Dentro disso inclui o fortalecimento dos sistemas de monitoramento e gestão de riscos, além de investimentos em infraestrutura urbana que possam mitigar os efeitos dos desastres naturais. Além disso, é extremamente fundamental enfrentar a raiz das desigualdades sociais, que historicamente têm exposto as populações mais vulneráveis aos maiores riscos ambientais. Somente com uma abordagem integrada de soluções verdes e sensível às disparidades sociais será possível mitigar os impactos dos desastres socioambientais e construir um futuro mais resiliente frente às mudanças climáticas.
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